Quinta-Feira, 18 de Abril de 2024

Em meio a disputa pela vaga de Selma na terra da familiocracia, Júlio Campos vira opção




COMPARTILHE

Júlio Campos é uma das raras inteligências entre os políticos mato-grossenses e tem que ser respeitado por essa condição. Ao respeito que se deve a ele soma-se sua fidelidade partidária aos ideais do movimento militar de 1964, como atesta sua postura partidária iniciada na Aliança Renovadora Nacional (Arena) até chegar ao DEM, passando pelas denominações anteriores do partido.

Em nome dos postulados citados e por sua experiência na vida pública, Júlio Campos quer disputar a eleição suplementar ao Senado, o que acho inconcebível – independentemente de seu histórico – em razão de sua consanguinidade com o senador democrata Jayme Campos.

Senado é tribuna da serenidade, de debates em alto nível, de intransigente defesa dos interesses nacionais e trincheira de lutas do senador pelo Estado que representa. Não pode ser cenário para a familiocracia, independentemente de quais sejam os familiocratas.

Se Júlio Campos não fosse irmão de Jayme Campos – avalio – seu desejo de voltar ao Senado seria plenamente justificável. Porém, os laços de família surgem como entraves tanto para o pleno exercício do mandato (nesse caso mandatos) em caso de vitória, quanto para o eleitorado que não absorverá bem essa condição.

Numa profunda analise de entendimento em nada mudará o curso do projeto político de Júlio Campos. É bem possível que grande parte da mídia, sempre solidária aos poderosos, não economizará elogios à volta de Júlio Campos aos palanques, onde esteve quando disputou, venceu e perdeu eleição para prefeito de Várzea Grande; quando por suas vezes se elegeu deputado federal; quando conquistou o governo e ao ser derrotado para o mesmo cargo; e quando foi senador.

Político extremamente habilidoso e mestre na arte da composição entre quatro paredes e fora delas, Júlio Campos – acredito – concorrerá ao Senado sob intensas luzes acesas pela imprensa e grandes caciques estaduais e regionalizados. Mesmo assim, imagino que sua candidatura sofrerá duros ataques nas mídias sociais que fogem ao controle do poder e dos poderosos.

Júlio Campos e Jayme Campos no poder será nova versão da familiocracia mato-grossense na bancada federal. Antes, ela foi representada pelo senador Jonas Pinheiro e sua mulher a deputada federal Celcita Pinheiro; e pelo senador Carlos Bezerra e sua mulher Teté Bezerra. Jonas ainda tentou aumentar seu poderio familiar lançando seu irmão Leôncio, candidato a deputado estadual, o que não se viabilizou diante do descontentamento de políticos do PDS ao qual era filiado. Dante de Oliveira (PSDB) também a quis adotar; saiu ao Senado, foi derrotado, mas sua mulher, a tucana Thelma de Oliveira se elegeu deputada; Thelma agora é prefeita de Chapada dos Guimarães.

Essa familiocracia aconteceu e permanece em outras áreas do poder político: Jayme Campos foi governador e Júlio Campos senador; os dois são filhos de ´Júlio Domingos de Campos – Fiote Campos, que foi vereador e duas vezes prefeito de Várzea Grande. Carlos Bezerra cumpriu um mandato de deputado federal com Teté Bezerra na Assembleia. O vice-governador Otaviano Pivetta (PDT) é irmão do prefeito de Nova Mutum e seu correligionário Adriano Pivetta. Prefeita de Torixoréu, Inês Coelho é mulher do ex-prefeito Odoni Mesquita Coelho. Também em Torixoréu, o deputado estadual Lincoln Saggin foi prefeito, e sua mulher, Olinda Saggin, também.

O deputado estadual Max Russi (PSB) e o prefeito de São Pedro da Cipa, Alexandre Russi (PL), são irmãos. Irmanadade também é o que há entre o deputado estadual Nininho (PSD) e o prefeito de Itiquira, Humberto Bortolini (PSD). Filho do deputado federal Emanuel Pinheiro Sobrinho, o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB) é pai do deputado federal Emanuel Neto, o Emanuelzinho (PTB). Niuan Ribeiro, vice-prefeito de Cuiabá é filho de Osvaldo Sobrinho, que foi deputado estadual, deputado federal, vice-governador e suplente de senador. Jayme Campos é marido da prefeita de Várzea Grande, Lucimar Campos (DEM). Roberto França, era prefeito reeleito de Cuiabá, e sua mulher, Iraci França, vice-governadora.

Em Alto Garças Cezalpino Mendes Teixeira – Pitucha – foi prefeito, e seu filho Cezalpino Mendes Teixeira Júnior – Pituchinha, também. Cândido Borges Leal Júnior, o Candinho, foi prefeito de Rondonópolis e deputado estadual, e seu genro, Percival Muniz, vereador, prefeito, deputado federal e deputado estadual – a mulher de Percival e filha de Candinho, Ana Carla, foi suplente de deputada estadual. Fausto Faria foi vice-prefeito de Rondonópolis, e sua mulher, Maria Niuza, vereadora. Em Paranaíta Pedro Alcântara – Porta Aberta – foi prefeito, e sua irmã, Sonia Maria Alcântara Berlanda, vice-prefeita. Governador biônico, Garcia Neto nomeou o genro Rodrigues Palmas, prefeito de Cuiabá; Fábio Garcia, suplente do senador Jayme Campos e ex-deputado federal é neto de Garcia Neto. Senador em exercício e ex-prefeito de Nova Marilândia, Cidinho Santos costurou a eleição do irmão Wener Klesley dos Santos para a prefeitura daquele município.

Em Araguainha, Osmari César foi prefeito, e sua mulher, Maria José – Zezé do Osmari – também. Em Rondonópolis Terêncio de Andrade foi vereador, e seu filho, Caio César, foi vereador por Cuiabá. Lindberg Ribeiro Nunes Rocha por várias vezes foi prefeito de Poxoréu, e sua mulher, Jane Sanchez, também administrou o município; ele é filho de Joaquim Nunes Rocha e irmão de Louremberg Ribeiro Nunes Rocha: o pai foi prefeito, deputado estadual e deputado federal; o irmão, deputado federal e senador. Carlos Bezerra foi prefeito de Rondonópolis, deputado estadual e federal, governador, senador e elegeu o primo Francisco Pedro Bezerra da Cruz prefeito de Juscimeira.  Paulo de Campos Borges presidiu a Câmara Municipal de Cuiabá e seu filho Paulo Borges Júnior também foi vereador pela capital. Naftaly Calisto foi prefeito de Vila Rica, e seu irmão, Domingo da Silva Neto – o Sílvio, foi prefeito da vizinha Santa Terezinha, o genro de Calisto, o advogado Diego Pedersen concorreu mas não levou Confresa por uma diferença muito pequena para Rônio Condão.

José Domingos (PSD) foi prefeito de Sorriso e deputado estadual enquanto seu irmão, Neurilan Fraga (PL), foi prefeito de Nortelândia. O fundador de Luciara, Lúcio da Luz foi prefeito; seu filho, José Liton, também; e sua neta Noely Paciente Luz, idem. Deputado federal, Pedro Henry elegeu o irmão Ricardo Henry, prefeito de Cáceres. Afro Stefanini foi deputado estadual e federal, e sua filha, Amélia, vereadora por Rondonópolis. O prefeito de Barra do Garças, Beto Farias (MDB) é filho de Cândida Farias (MDB), segunda suplente de Jayme Campos; o pai de Beto, Wilmar Peres de Farias, foi governador.

Em Rondonópolis Percival Muniz (PPPS) foi prefeito, e seu primo, Tiago Muniz (DEM), vereador. Márcio Lacerda (MDB) foi deputado estadual, deputado federal senador e vice-governador, e seu irmão, José Lacerda (MDB), vice-prefeito de Cáceres e deputado estadual; Marcinho Lacerda, filho de Márcio, foi vereador por Cáceres. Dilmar Dal’Bosco (DEM) é deputado estadual e seu irmão Ladimir Dal’Bosco, o Billy (PL) é vereador por Sinop. José Riva (PSD) foi deputado e controlou a Assembleia Legislativa por 20 anos e seus irmãos Priminho Riva (PSD), em Juara, e Paulo Rogério Riva (PSD), em Tabaporã, foram prefeitos reeleitos naqueles municípios. Zeca Viana (PDT) foi deputado estadual, e seu irmão, Getúlio Viana (PSB), prefeito de Primavera do Leste. Jayme Campos foi senador, e seu irmão, Dito Paulo (DEM), prefeito de Jangada. À época prefeito de Cuiabá e ex-depútado estadual e ex-deputado federal, Wilson Santos lançou e elegeu o irmão Elias Pereira dos Santos, vice-prefeito de Chapada dos Guimarães.

O senador Welllington Fagundes (PL) é sogro da deputada estadual Janaína Riva (MDB), que é filha de José Riva. Ságuas Moraes (PT) foi deputado estadual, e sua mulher, Joselina Moraes (PT), vice-prefeita de Juína. Blairo Maggi (PR) foi governador e senador, e seu primo, César Maggi (PR), prefeito de Sapezal; o pai de Blairo, André Maggi, foi o primeiro prefeito de Sapezal. José Pinto foi vice-prefeito de Rondonópolis e seu filho Raul Pinto, vereador.

Em Alto Araguaia, Jerônimo Samita Maia Neto foi prefeito a exemplo do avô Jerônimo Samita Maia, Também em Alto Araguaia os irmãos Cacildo e Clóvis Hugueney foram prefeitos. Em Barra do Bugres, os irmãos Hitler e Agostinho Sansão foram prefeitos.

Em Cáceres, Antônio Fontes foi prefeito e seu filho, Túlio Fontes, também; Túlio foi deputado estadual.  Carlos Alberto Carrara foi prefeito de Itaúba; e seu irmão, Roque Carrara, se elegeu prefeito de Nova Santa Helena, ex-distrito de Itaúba; Terezinha Carrara, mulher de Roque é a prefeita de Nova Santa Helena. Em Rondonópolis Ananias Martins foi vereador em várias legislaturas, e seu filho, Ananias, foi vereador e prefeito eleito pela Câmara. Também em Rondonópolis, Lucas Pacheco de Camargo foi vereador, e seu filho, Mariozan Camargo, idem. Mauro Costa foi presidente da Câmara de Rondonópolis, ele é genro de Carlos Bezerra, tantas vezes aqui citado.  Em Poxoréu os irmãos Antônio e Herculano Muniz foram prefeitos; elas são tios de Percival Muniz. Em Diamantino Francisco Ferreira Mendes foi prefeito, e seu filho Francisco Ferreira Mendes Júnior, também.

Em São Félix do Araguaia José Antônio de Almeida – Baú – foi prefeito em dois mandatos alternados, e sua mulher, Nilva Maria, vice-prefeita. Roberto Nunes, que foi vereador, vice-prefeito de Cuiabá e deputado estadual, é irmão de Chica Nunes, que foi presidente da Câmara da capital e deputada estadual; Chica é mulher de Marcelo Ribeiro, que foi prefeito de Barão de Melgaço.

Valdon Varão, que foi vereador e prefeito de Barra do Garças, deputado estadual e suplente de senador, era sogro do deputado estadual Sebastião Alves Júnior; Sebastião Júnior foi casado com Malba Thânia, filha de Varjão e suplente de deputada estadual. Sarita Baracat foi vereadora e prefeita de Várzea Grande, e deputada estadual; seu marido, Emanuel Benedito de Arruda – Caboclinho presidiu a Câmara daquele município; o filho do casal, Ernandy Maurício Baracat de Arruda – Nico Baracat foi vice-prefeito do município e deputado estadual; o neto dos Baracat, Kalil Baracat foi vereador. Vicente Emílio Vuolo foi deputado estadual, prefeito de Cuiabá, deputado federal e senador; seus filhos Vicente – Vuolinho e Francisco Vuolo foram vereadores por Cuiabá. Augustinho de Freitas Martins foi vereador por Cuiabá, deputado federal e prefeito de Pedra Preta; seu irmão, José Carlos de Freitas, vice-prefeito de Várzea Grande e deputado estadual. Em Ponte Branca Sandoval Nogueira – Sandu – foi prefeito; seu filho Demilson, também, e o atual é outro filho, Humberto Nogueira.

Romoaldo Aloísio Boraczynski Júnior foi vereador e prefeito de Alta Floresta, e deputado estadual;seu irmão Juliano Jorge foi vereador naquele município e deputado estadual. Oscar Bezerra foi prefeito de Juara, e sua mulher, Luciane Bezerra, também; Luciane foi deputada estadual e seu marido, idem. Em Santa Carmem Olídio Pedro Bortolas foi prefeito; hoje, o prefeito é seu neto Rodrigo Andrey – Rodrigo do Posto – e o vice-prefeito, também seu neto, é Pablo Liberal Bortolas – Pablo do Chó, que por sua vez é primo de Rodrigo do Posto. Sandra Crozetta é prefeita de Juruena, e antes dela, seu marido Bernardinho Corzetta, também foi. Dalva Peres é prefeita de Cocalinho, e seu marido Luis Peres, também foi. Alcenor Alves de Souza foi prefeito de Alto Paraguai, que agora é administrado por sua mulher, Diane Vasconcelos de Souza.

Milton Geller foi prefeito de Tapurah, apoiado pelo irmão Neri Geller, que foi vereador por Lucas do Rio Verde, deputado federal e ministro da Agricultura. José Maria Barbosa – Juca do Guaraná – foi vereador por Cuiabá, e seu filho Lídio Barbosa – Juca do Guaraná Filho, é seu herdeiro na Câmara da capital.

Ary Leite de Campos foi prefeito de Várzea Grande, deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e seu filho, Campos Neto, foi vereador naquele município, deputado estadual e ocupa a cadeira que foi do pai no TCE. Em Rondonópolis Mohamed Zaher foi vereador, e seu filho, Ibrahim Zaher, também. Claídes Lazaretti Masutti foi prefeita de Campos de Júlio; Claídes é viúva de Valdir Masutti, que foi prefeito de Comodoro, município ao qual Campos de Júlio pertencia.

Romoaldo cumpre o quarto mandato de deputado estadual (eleito em 1990, 94, 98, 2010 e 2014), foi vereador por Alta Floresta e prefeito daquele município. Cassada, a senadora Selma Arruda (Pode) aguarda o momento da abertura do alçapão do enforcamento judicial para deixar o cargo e mergulhar numa longa inelegibilidade. 

Picado pela mosca azul familiar, Júlio Campos se prepara para disputar a cadeira aberta com a cassação de Selma Arruda. Mato Grosso acompanha essa situação, sem grandes manifestações, tratando tudo com muita naturalidade. Selma Arruda foi enrodilhada pelos tentáculos dos conchavos de bastidores, que não medem consequências na luta pela poder. Se realmente ela cometeu crimes de abuso de poder econômico, caixa 2 e campanha extemporânea, sua cassação é justa, mas ao mesmo tempo, por amostragem, pois ao longo da disputa em 2018, o que mais se viu em Mato Grosso foram sinais exteriores de gastos abusivos por parte de candidatos majoritários e proporcionais.

Selma Arruda, no aspecto político, começa a sair de cena. Júlio Campos ensaia retorno a esse universo. O adeus da senadora não passou pelo crivo popular, uma vez que foi decidido pela cara e lenta Justiça Eleitoral. A volta de Júlio Campos somente será possível caso o eleitorado faça vistas grossas e diga amém ao surgimento da Bancada dos Campos no Senado.


Autor:Eduardo Gomes com A Boa Midia


Comentários:
O Jornal do Carajas não se responsabiliza pelos comentários aqui postados. A equipe reserva-se, desde já, o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos ou de alguma forma prejudiciais a terceiros.

Nome:
E-mail:
Mensagem:
 



Copyright - Jornal do Carajas e um meio de comunicacao de propriedade da AMZ Ltda.
Para reproduzir as materias e necessario apenas dar credito a Central AMZ de Noticias