Às vésperas das eleições para nova diretoria da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), uma cisão dentro do setor, que busca melhorar sua imagem em relação ao meio ambiente, pode colocar em xeque alianças e esforços que vêm sendo criados para mostrar ao mundo que a produção nacional é sustentável e que a maioria dos produtores obedece à legislação brasileira.
Mato Grosso é o maior produtor nacional de grãos e algodão, detém o maior rebanho bovino do Brasil e, certamente, é o estado que mais precisa de alianças em prol da boa imagem da atividade. A Aprosoja/MT foi a primeira entidade criada em defesa da soja, em 2005, e validou a desfiliação da Aprosoja Brasil da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Na virada do mês, a Aprosoja Brasil - que reúne 16 entidades estaduais - anunciou a decisão de se desfiliar da Abag, em razão de desencontros entre necessidades e ânsias de quem produz, frente à postura de divulgação empreendida pela Abag. O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, argumentou que a decisão unânime entre todas as ‘Aprosojas’ levou em conta a não-defesa daqueles que produzem.
A gota d’água para cisão no setor foi a entrega de um documento ao presidente Jair Bolsonaro, com seis medidas para reduzir o desmatamento no Brasil, especialmente na Amazônia Legal. intitulado ‘Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura’. O manifesto reúne 230 entidades incluindo a Abag e ONGs. Os altos índices de focos de incêndios e de queimadas também tem incomodado o segmento.
“Buscamos, há anos, dentro de um trabalho sério e direcionado, fazer com que a sociedade entenda que as propriedades são sustentáveis. A Abag não fazia essa informação chegar e nos sentimos prejudicados. Dentro da Abag éramos voto vencido por outras entidades. Éramos pegos de surpresa por debates e informações sem nossa autorização. A imagem estava prejudicada”, completou Braz.
A atual diretoria da Aprosoja/MT, presidida pelo produtor Antônio Galvan, não quis se manifestar em relação à decisão da ‘entidade-mãe’. Porém, o candidato à direção da entidade, o também produtor Marcos da Rosa, comentou a cisão e disse que o setor produtivo tem de se unir a associações que de fato representam a agropecuária e não apenas o agronegócio.
Marcos da Rosa, que já presidiu a Aprosoja Brasil entre 2016 a 2018, observou que a cisão não vai interferir nas eleições da Aprosja/MT, marcadas para 9 de novembro. Sobre a desfiliação, Da Rosa explicou que, dentro da Abag, se decidiu tratar a agropecuária de uma maneira, que para quem produz, foi errada.
“Trataram de forma errada no que se refere à sustentabilidade ambiental, entraram na onda das ONGs e das pressões internacionais. Não chamaram os representantes da agropecuária para formular um método de demonstração de dados referentes à preservação que existe no País e, consistentemente, dentro das propriedades, como as reservas legais nos mais variados biomas e as áreas de proteção permanente, as APPs”.
Ainda conforme Da Rosa, o que é legal no Brasil é legal. “Não são as pressões internacionais que devem ditar as regras de produção sustentável no Brasil, nossa qualidade de produção e nossa forma de produzir é e melhor do mundo. Não temos de pagar caro por certificações para provar o que estamos fazendo. Provamos o que fazemos com dados, de outra forma, não tem cabimento”, completou.
Ele lembra que o Brasil detém um Código Ambiental, de 2012, que traz como data limite para casos de desmatamento, fatos ocorridos até 2008. “Ao contrário do que rege o Código, há quem queira manter um ponto de corte sobre esse tema até 2006. Como pode isso, se a legislação assegura diretos e deveres até 2008? Pressões não podem fazer um ponto de corte dentro do que já existe na legislação do Brasil. Nesse contexto a Abag age como se fosse guardião da sustentabilidade ambiental do agronegócio, avalizando pressões como essas”.
Diante da divergência na condução de ações para melhorar a imagem da agropecuária, e consequentemente, do agronegócio nacional, a Aprosoja Brasil disse que vai fazer uma união da produção legal dentro do Brasil com várias entidades produtoras que unem produção e conservação.
Analistas e agentes do mercado do agronegócio dizem que o extremismo político também toma conta do setor. Por trás da ‘Coalisão’ apresentada pela Abag, sem anuência da Aprosoja Brasil, está a velha disputa entre ONGs e produtores rurais, e que atualmente congrega rixas entre ‘os de esquerda e os de direita’, quem apoia ou não atual presidente do Brasil.
A ABAG - Por meio de nota, assinada pelo presidente Marcello Brito, a Abag destacou que possui um estatuto e todos os membros seguem as mesmas regras. “Os participantes, ganham e perdem nos diversos temas, isso é o que caracteriza uma associação de diálogo”.
Também explica que a entidade congrega empresas nos três eixos do agronegócio: antes, dentro e depois da porteira. Reforça que a credibilidade da Abag na representação do agro brasileiro “dispensa comentários, é conhecida e transparente”. Por fim lamentou a saída da Aprosoja Brasil. “Continuaremos nossa luta em defesa total por um só agronegócio. Um agronegócio responsável, sustentável e legal, características do Agro nacional, junto a toda a sociedade”.
Autor:AMZ Noticias com Diário de Cuiaba